quinta-feira, abril 12, 2018

Carta aberta ao senhor Carl Sagan ou minha revisão de O Mundo Assombrado pelos Demônios

Estimado senhor Sagan,

Tive conhecimento de sua existência quando da sua ausência. Explico. Em 1996, aos 8 anos de idade, minha mãe realizou a assinatura da revista brasileira Superinteressante, e no editorial do quarto exemplar em que recebi em casa soube da sua morte. Até aquele momento não sabia quem você era, muito menos o que tinha feito, mas ao ler aquelas palavras soube que era um importante divulgador científico. Já se passaram muitos anos. Minha curiosidade sobre a astronomia continua, embora tenha tido altos e baixos nesse tempo. E entendi melhor, aos 30 anos, por que não me interessei em seguir uma carreira acadêmica voltada à física, quando li seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios. Não encontrei nenhuma receita Winchester de como se livrar destes demônios (foi uma piada, às vezes acho que sou engraçado), mas percebi que como seres pensantes temos que nos desenvolver melhor, livrarmos de amarras que nos prendem a superstições. Estas correntes fazem parte do mundo ocidental em que vivemos. Não vou entrar no caso da religião. Keppler que o diga, lidou bem com isso, mas claramente o cenário de 2018 no Brasil é bem assustador. A ignorância e intolerância se propagam com rapidez através de algo chamado internet, que ainda engatinhava quando o senhor escrevia o referido livro. Fizemos boas coisas com a internet, mas também coisas ruins. Estamos totalmente conectados em aldeias globais, podemos nos comunicar rapidamente com os outros, e aqueles mesmos desejosos por enganar os outros continuam a existir também nessa rede. São inúmeros os casos de notícias falsas, propagadores de invencionices que causam espanto até mesmo naqueles senhores que criaram os círculos nas plantações, que mesmo admitindo a autoria do ato, seguem sendo copiados mundo afora. O seu livro trata bem do caso americano de ensino. Não é muito diferente do país em que vivo. Saiba que aqui é pior, muito pior. Professores não recebem o seu salário inteiro porque o governo alega não ter dinheiro, enquanto gasta milhões em outras coisas, só para citar um exemplo. Mas nem tudo é tão ruim. Há cidadãos neste mundo REDONDO (sim, a crença do planeta plano persiste e se espalha com força no globo, GLOBO) que se esforçam para realizar a divulgação científica, seja em salas de aulas, canais na plataforma de vídeos online, palestras em locais públicos e privados, além de outros lugares. O Dragão Invisível segue à solta, mas novos São Jorge bem visíveis surgiram com lanças poderosas a espetar o peito metálico da ignorância. O mundo segue a ser assombrado pelos demônios, agora com esteroides, senhor Sagan. Não sabemos se um dia eles deixarão de existir, porém é isso que faz do trabalho da ciência desafiador, superar os limites do conhecimento para depois questionar esses limites e seguir nessa constante busca pelo saber.

Crowley assombrando o mundo (mais uma pida sem graça minha)

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