Começou ainda em setembro, uma amiga me trouxe três obras de
dois escritores gaúchos muito conhecidos, mas que eu, grande desconhecedor da literatura
conterrânea, ainda não havia lido. Por que ela me trouxe? Bem, porque foi minha
encomenda pelo site do qual ela é a gerente do e-commerce, a Vitrola, e como
sou um cliente muito legal e bacana, recebo em casa em menos de 24 horas minhas
compras. Os livros foram meu presente de despedida dado a mim mesmo por ter
saído do jornal onde trabalhava. Não deve existir presente melhor. Até deve, mas para outras pessoas. Só realizei a leitura de duas das três obras por alguns
motivos:
1º - Estava a terminar a leitura das Crônicas Saxônicas.
2º - Emprestei um deles, O Centauro no Jardim, para a minha
mãe, que ainda não o leu.
- Incidente em Antares é um passeio pela história recente
humana, que é retratada em poucas páginas pelo master Erico Verissimo. Bom,
retratar aspectos singulares que estão presentes eras após eras em diferentes
culturas nos indivíduos é tarefa árdua. Agora, fazer isto, de maneira a tornar
a leitura prazerosa, bem, isso é comparável aos 12 trabalhos de Hércules ( e
talvez eu esteja escrevendo isto por estar ouvindo as 7 horas de soundtrack da
Xena, no youtube). Os aspectos que me referi são sobre a psicologia humana. A
trama entre as famílias rivais, ambientado no cenário gaúcho arcaico e transportado
até a enfadonha época da ditadura sucumbe numa análise minuciosa sobre como
reagimos perante à morte. Nisso, o que mais percebo é a fraqueza humana,
podemos saber que temos todos o mesmo fim, mas agimos como babacas até lá.
- O Evangelho segundo Jesus Cristo é uma obra do Saramago,
português, que eu comecei a ler lá pelos meus inesquecíveis (porém não mais
lembráveis) 17 anos, quando cursava faculdade. Digo que iniciei a leitura por
várias vezes. O recurso estilístico próprio fazia-me desistir. E admito, minha
incapacidade de aceitar que a realidade não existe era mais forte. Não
conseguia ler a obra pelo fato de achar que a história de Cristo humano era
profana. E esse era o ponto que agora eu pude virar. A mim tampouco sei sobre
qualquer coisa. Saberei mais se possível for minha capacidade de compreensão da
visão dos outros. Essa é a uma forma de aprender que consigo levar como
aprendizado. Cada ser é único. Sobre a obra, é contestadora, coloca o humano
como o é, nada, dirigindo-se ao fim. O que ele fará até lá é que será
importante.
- O exército de um homem só, livro curto de Moacyr Scliar, se passa em Porto
Alegre, ao mesmo tempo em que se passa na cabeça da principal personagem, que
está em vários lugares ao mesmo tempo. Ótima obra, fácil leitura e boa
compreensão.
O que as três obras referidas têm em comum? Levo em
consideração a morte. Os mortos saindo insepultos do cemitério em Antares
provocam tantas reações na população que nada mais são do que as reações que
temos quando não sabemos como agir. Procuramos explicação, procuramos o divino (ou
ser superior, algo sobrenatural), ficamos perplexos, indignados, depois encaramos
a verdade, mas não podemos mais alterá-la. Em o Evangelho temos o confronto de
um homem que descobre que tudo o que deve fazer é morrer, e é exatamente isto
que ocorrerá a todos nós. Este homem confronta o seu pai, que pode ser, para
nós, como o nosso destino. Afastamos pessoas de nossas vidas, nos unimos a
outras, decepcionamos aqueles que mais nos amam e muitas vezes nem sabemos
porquê fizemos isso, apenas fazemos enquanto rumamos ao fim. O exército de um
homem só é poético, mas nosso relato é sobre o falecido Capitão Birobidjan, que
em toda a sua genialidade nunca foi compreendido por sentir saudades de algo
que nunca viveu.
E quem consegue plenamente compreender a vida?
Foram pouquíssimos livros neste intenso semestre de
descoberta e trabalho. Descoberta de que levarei até a tumba uma doença.
Trabalho que ficou cada dia mais pesado, descompensado pela minha ignorância em
relação à doença. Como realmente compreender a vida se tudo age para que
saiamos o mais depressa dela?
Saiba mais sobre as obras:
Você pode encontrá-las na Vitrola
PS: Por que eu falei sobre três obras, mas citei duas se escritores gaúchos e nem havia falado sobre o escritor português? Cadê a coerência?
- Blog é meu, erro onde achar necessário. Escolhi, porque tive a oportunidade de determinar qual seria o meu presente de amigo secreto na empresa onde trabalho, o famigerado Evangelho Segundo Jesus Cristo, do referido português José Saramago, e achei que deveria lê-lo antes do Centauro no Jardim, do Scliar.